O ano era 2002, eu tinha acabado de ser promovido para o cargo de coordenador de equipes, assumia naquele momento um dos papeis mais importantes da minha vida, que me geraram o maior aprendizado de liderança que eu poderia ter. Eu tinha respeito dos meus superiores e, principalmente, das pessoas que eu coordenava. Parecia que meu caminho dentro daquela empresa seria promissor, parecia.
Como eu tinha acabado de ser promovido, minha visão da empresa era ainda muito focada na visão dos funcionários, afinal, até bem pouco tempo atrás, eu fazia parte daquele time e mesmo tendo destaque e assumindo papeis de liderança, era ainda um deles. Ao assumir meu novo papel minha principal preocupação foi a de melhorar as condições gerais de trabalho, principalmente pelo motivo de que o que mais recebia de meus liderados eram reclamações de falta de equipamentos, infraestrutura, etc. Para contextualizar melhor esta estória faltou mencionar que a empresa que eu trabalhava era uma empresa de call center que atendia (terceirizava) diversas outras empresas. Desta forma, as equipes que eu coordenava estavam diretamente ligadas a projetos de terceiros. O meu dia a dia era “apagar incêndios” e cada vez mais meu desejo era o de tentar resolver estas questões acreditando que assim todos os problemas se resolveriam. Estava na época com 23 anos, vivendo ainda uma fase de ideais.
Poderia aqui relatar mais detalhes, porém o ponto em que quero chegar se deu numa reunião de fechamento em que eu deveria apresentar para clientes (terceiros), diretores e gerentes diretos meus os números de desempenho dos times. Fiz isso bem, demostrando a eles como as equipes estavam se saindo, mas acabei acrescentando algo que julgava imprescindível de falar, mas que no momento me gerou um grande desconforto, porém me proporcionou uma das maiores lições da minha vida. Ao final do relatório de desempenho inseri um slide mostrando a estas pessoas questões que poderiam ser melhoradas para que a equipe performasse melhor. Minha imaturidade de vida não me permitiu perceber que na verdade o que fiz foi apontar erros e falhas da empresa em que eu trabalhava para os clientes que a contratavam. Nada do que eu falei estava errado, porém a posição que eu recém havia assumido tinha que ser equilibrada e, naquele momento, minha visão foi apenas a do funcionário.
Ao terminar minha apresentação fui repreendido imediatamente por meu diretor: “- claramente falta ao nosso coordenador uma visão do todo” – disse ele aos demais. Após se desculpar com os clientes presentes pela minha fala o diretor ainda disse que questões de infraestrutura são cuidadas internamente e que serão resolvidas o quanto antes. Naquele momento percebi meu erro. Não se trata de defender ou não seus liderados, mas sim de como fazer sabendo que é necessário sempre olhar para as duas pontas; empresa e funcionários.
Um líder precisa ser a base de equilíbrio entre empresa e time. Tem que cuidar dos interesses dos dois lados, pois se esta balança pender para algum deles, é possível que todo o negócio possa ficar prejudicado.
Na cultura oriental se utiliza um termo que acredito ser relevante a este cenário. O termo é MUGA (sem ego). Um líder precisa se desprender de suas vontades, seu ego, para que seja o ponto de equilíbrio da empresa. Se por alguma razão suas crenças pessoais, seus ideais e suas verdades individuais se sobressaírem perante seu papel de liderança é possível que você entre em desequilíbrio, que deixe de olhar para algum dos lados que representa e que acabe assumindo consequências deste processo.
No meu caso a consequência foi ser chamado na sala de meu diretor e ouvir que um líder tem que saber defender seu time, porém também tem que defender a empresa. A partir do momento em que você se torna um líder você passa a ser um representante destas duas frentes. Dias depois desta conversa na sala dele eu fui demitido da empresa. Um dos momentos mais difíceis da minha carreira, porém também uma experiência que me trouxe um aprendizado que carrego até hoje em minha vida. É preciso tirar o “EU” do contexto e passar a olhar seu papel como um ponto de equilíbrio.
Aplicar o MUGA em sua vida como líder é um grande desafio que exige prática, dedicação e tempo. Buscar ser um líder mais equilibrado talvez seja uma das funções da liderança que você exercerá por mais tempo em sua carreira, portando começa a refletir sobre isso o quanto antes pode transformar sua forma de agir.
Luciano Giannini
Professor, psicopedagogo, mestre em comunicação e faixa preta 4º grau na arte do Aikido e fundador da Metodologia Budo Experience. Trabalha com desenvolvimento de pessoas desde 2001 seja no âmbito educacional ou corporativo., e é Associado Três.
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